domingo, 9 de outubro de 2011

002-07 Skiffle


Criado nos anos 20 por jazzistas pobres demais para terem bons instrumentos e que usavam tábuas de lavar roupa, garrafões soprados como contrabaixo e quetais, misturado com folk-music e no espírito qualquer-um-pode-tocar, precursor do punk.


Revivido nos anos 50 na Inglaterra por Lonnie Donegan (nasc. 1931) e outros com muito sucesso;



os Beatles estão entre os milhares de roqueiros ingleses que começaram fazendo skiffle, moda que na Inglaterra foi uma transição entre os "revivals" do dixieland e do rhythm and blues. Veja a música "You've Got to Hide Your Love Away".
 



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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

002-06 Jazz



Primo-irmão mais velho do rock and roll e que disputa com ele e o blues o título de "única música legitimamente norte-americana" (conforme vossa opinião sobre o que seja legítima música norte-americana ou mesmo o que seja música). Nascido no final do século XIX nos grandes centros urbanos de Nova York e, principalmente, nas mais povoadas por negros Chicago e Nova Orleans, o jazz pode ser mais ou menos definido (já tentaste definir o jazz? Como diz a frase atribuída a Louis Armstrong ou Fats Waller, "se você precisa perguntar o que é jazz, nunca irá entendê-lo") como uma combinação de blues, ragtime, stride, boogie-woogie, gospel e zydeco (que definiremos mais à frente), tocada com instrumentos urbanos como piano, violão e sopros (estes, no início, eram cortesia de bandas militares), sempre com espaço para improvisações a partir de um tema (geralmente um blues).


Segunda Guerra Mundial (1914-1918): A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria havia levado mais gente dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e negros e a tensão social e racial mas também favorecendo a influência mútua entre a música negra (blues e seus derivados) e a música branca (principalmente country e jazz). Da fusão do blues original com os rítmos mais dançantes dos brancos surgiu o rhythm and blues, que levou a música negra ao conhecimento da população consumista.

Originalmente mundano e hormonal como o rock and roll, o jazz também tem seu nome derivado de uma gíria para o ato sexual, a princípio grafada "jazz"ou até "jasz". "Rhapsody In Blue", peça erudita com toques de jazz e blues lançada por Gershwin em 1924, contribuiu muito para que o jazz se tornasse como disseram, "uma dama" respeitável.



NEW ORLEANS: Primeiro estilo do jazz. Criado pelas bandas pioneiras de New Orleans, sua música polifônica, improvisada simultaneamente a três vozes (trumpete ou comet, trombone e clarinete) na linha-de-frente, destacou os primeiros grandes nomes do jazz: King Oliver, Louis Armstrong, Johnny Dodds, Sidney Bechet, Jelly Roll Morton, Bunk Johnson, Freddie Keppard, Jimmie Noone e Baby Dodds. O jazz de Nova Orleans chamou-se no início "Dixieland jazz" ("Dixieland" é o apelido do Sul dos EUA), e suas improvisações seguiam o esquema já citado de tema-e-variações: primeiro a melodia, depois solos improvisados, e para terminar volta-se à melodia. O resultado é bem entusiástico e barulhento (para muitos críticos chatos, é mais entusiasmado que entusiasmante), e o dixieland pode ser considerado ascendente direto do rock and roll - será coincidência o fato de Elvis Presley ter ganho seu primeiro Disco de Ouro por uma mistura de rock-Dixieland, "Hard Headed Woman", em 1958?




(Sim, esta música veio de um filme inteiro neste clima, King Creole, que tinha até um "Dixieland Rock".)




Terá sido Elvis o pai do jazz-rock, do qual falaremos nos anos 60? De qualquer modo, as big-bands de Glenn miller, Artie Shaw, Benny Goodman, cujo apogeu foi nos anos 30 e 40, tiveram papel duplamente importante na história do rock. Além de unirem músicos e arranjadores negros e brancos e acabarem aos poucos com o apartheid musical, as big-bands, com seu espírito de poucos solos individuais e muita união, haviam de influenciar os grupos de rock - confira, por exemplo, os arroubos de "In The Mood", "hit" de Glenn Miller em 1939,



com todos os músicos empenhados no mesmo riff (frase melódica curta e continuamente repetida), técnica adotada em, por exemplo, "I'm A Man" com os Yardbirds,



"You Really Got Me" dos Kinks



 (confessamente inspirada no ritmo de "The Train And The River" do saxofonista Jimmy Giuffre),



"Rock Around The Clock" de Bill Haley e "The Jean Genie" de David Bowie.



E Chuck Berry sempre declara que adaptou seu famoso riff de gravações da big band de Benny Goodman de do r and b de Louis Jordan.


FORMAS MUSICAIS QUE ANTECEDERAM O JAZZ


Africanos e europeus trouxeram para o Novo Continente os frutos de suas tradições musicais que, com o aparecimento do jazz, já possuíam formas e características definidas e que seriam aproveitadas e elaboradas com a nova expressão musical.

CALL - Significa "chamada" e seria a primeira manifestação do negro transferida do instrumento para a voz.

SHOUT - Grito individual, curto e bem ritmado, para chamar atenção de forma barulhenta. Do campo passou para a rua (street-cry, espécie de pregão) e para outras zonas de trabalho (docas, estradas-de-ferro, barqueiros, etc.). Gershwin, na ópera "Porgy and Bess", reproduziu vários shouts.

VODUN (Voodoo, Hoodoo, Ring-shout) - Ritual alucinante, de inspiração religiosa. Até o ano 1803 era praticado à noite, às escondidas. Predominava o ritmo obstinado, os cantos monótonos e evocativos, danças ruidosas e gesticulação corporal própria da raça negra. O ritual se aproximava da macumba brasileira e os cantos obedeciam à forma de chamada e resposta.

WORK-SONGS (Labor-songs, Plantation-songs, Holler-songs, Field-hollers, Country-blues) - Cantos de trabalho, para o alívio dos sofrimentos. Tolerados no começo, foram depois aconselhados pelos patrões, pois coordenavam os movimentos de trabalho e aumentavam a produção. Consistiam em motivos monótonos, de reminiscência africana, ou improvisados, ou tirados de melodias conhecidas. O canto era em uníssono, sem acompanhamento, e se desenvolvia entre um guia e o coro; o ritmo, vigoroso. As field-hollers eram chamadas típicas das plantações. Da work-song derivariam a balada e o blues. (A linda balada John Henry, que exalta a força do negro e o desafio do homem contra a máquina, provém de uma work-song).

SPIRITUALS - Gênero criado no Século XIX, a principal origem do blues. Cantos de inspiração religiosa, influenciados pelo coral presbiteriano e pelos sermões cantados e dialogados nos camp-meetings. Representam a expressão coletiva dos povos negros, suas esperanças, suas aspirações (Para confirmar a origem religiosa do spiritual, compare-se, por exemplo, o conhecido Deep River com o hino litúrgico Iste Confessor). O spiritual evoluía de um trecho de hino (que nem sempre era conhecido na íntegra) sofrendo as conhecidas modificações rítmico-melódicas da versão negra e repetido insistentemente. Mesmo assim, não perdia o caráter místico e o sentido de coletividade, através de textos simples e ingênuos, onde o homem e Deus se comunicam familiarmente. (Editada por Allen, Ware e Garrison e patrocinada pelo governo, aparecia em 1867 a coletânea Slave Songs Of The United States, a primeira do gênero, que despertou muito interesse. Incluía work-songs, spirituals, shouts, etc. John e Alan Lomax gravaram (entre 1933-40) vários "gritos" e cantos de trabalho, mantidos vivos nas penitenciárias onde os condenados executavam trabalhos pesados. As gravações pertencem ao Arquivo Folclórico da Biblioteca do Congresso.) O spirituals, meio esquecido depois da guerra civil, foi difundido, a partir de 1871, pelo grupo "Fisk Jubilee Singers", pelos Estados Unidos e pela Europa, despertando a atenção e abrindo o caminho ao blues e ao jazz.


O SPIRITUAL POSSUI DIVERSAS VARIANTES:


Song-sermon - sermão cantado; forma primitiva de evangelização, onde o canto (quase falado) é intercalado de diálogos e várias exclamações, adquirindo, às vezes, aspectos dramáticos. Esta forma ainda é praticada.

Jubilee - é um spiritual baseado num texto mais alegre.

Negro-spiritual, Negro - sinônimos de spiritual, sendo que inicialmente esta forma era cantada por gente de cor.

Gospel, Gospel-song, Canto evangélico - versão moderna urbana do primitivo spirituals, onde o caráter religioso e o estilo coral são mantidos através de movimentação rítmica mais animada e alegre; o prisco caráter estático e místico perderia para a inclusão de um novo swing.

Secular - Canto que possui a mesma estrutura do spiritual, variando porém o argumento, que não é religioso e, quase sempre, é relacionado com a vida do negro.

Convém lembrar alguns nomes ligados a essas expressões religiosas: F. Rosamond Johnson e Harry Thaker Burleight fizeram arranjos de vários spirituals usando harmonização tradicional. Langston Hughes e Thomas A. Dorsey impulsionaram a gospel-song; o primeiro fornecendo textos e o segundo criando as melodias. Mahalia Jackson (1911-72) foi a grande intérprete do spirituals e da gospel que, através do especial modo de fraseado e pelo balanço, conseguiu relacionar a música religiosa do negro com o blues e o jazz. Outros dos maiores expoentes: Sister Rosetta Tharpe, Reverend Kelsey e Marion Williams.

BLUES - É o resultado de elementos do grito do campo, do spirituals, da work-song e de melodias européias, traduzidos num canto individual, com acompanhamento, onde a preocupação é o motivo dominante. O termo blues (invariável quanto ao número) provém de uma expressão atribuída (1807) ao escritor Washington Irving (1783-1859)


Washington Irving

e foi adotado para indicar uma canção melancólico-sentimental e um estado de alma onde predomina a tristeza (blue significa "triste").
Veja mais sobre o Blues que antecedeu o Jazz.


OUTROS ESTILOS DE JAZZ


DIXIELAND: Derivação do estilo New Orleans desenvolvida por músicos brancos de Nova York nos anos 20. Principais expoentes: Miff Mole, Red Nichols, Joe Venuti e Adrian Rollini.

CHICAGO: Outra derivação do New Orleans, com o acréscimo do saxofone na linha-de-frente. Principais nomes: Bix Beiderbecke, Frankie Trumbauer, Bud Freeman, Eddie Condon, Jimmy McPartland, Joe Sulivan.

SWING: Estilo que floresceu nos anos 30, de grande apelo rítmico. Principais figuras: Benny Goodman, Count Basie, Chick Webb, Jimmie Lunceford, Roy Eldridge, Coleman Hawkins, Lester Young, Lionel Hampton, Johnny Hodges, Harry Carney, Cootie Williams, Buck Clayton, Harry James, Teddy Wilson.

MAINSTREAM: Amálgama de elementos da era pré-swing e do swing, mesclados a inovações emprestadas a outras formas musicais.

BEBOP: Estilo surgido nos anos 40, deu início à era moderna do jazz. Revolucionou todos os conceitos em tempos de improvisação, melodia, harmonia, rítmo, composição, sonoridades e timbres. Criado por Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Thelonious Monk, Kenny Clarke e outros, teve milhares de seguidores, entre eles Bud Powell, Fats Navarro, J.J. Johnson, Miles Davis, Dexter Gordon, Cecil Payne, Sonny Stitt.

COOL JAZZ: Caracterizado pela maneira moderada de tocar sem vibrato, trouxe uma nova estética através de coloridos tonais extraídos de instrumentação própria, que incluía tuba e tromba. Principais músicos: Miles Davis, Gil Evans, Gerry Mulligan, John Lewis e Lee Konitz.

WEST COAST JAZZ: Derivação do cool jazz, desenvolvida na Califórnia por músicos brancos egressos das orquestras de Stan Kenton e Woody Herman. Principais nomes: Shorty Rogers, Jimmy Giuffre, Shelly Manne e Chico Hamilton.

HARD BOP: Segmento do bebop, com maior força de expressão rítmico-melódica, desenvolvido pelos conjuntos de Art Blakey, Horace Silver, Clifford Brown-Max Roach e Sonny Rollins.

FREE JAZZ: Jazz de vanguarda em que a improvisação é livre, sem se fixar nos acordes de base e no rígido andamento. Criado à partir das inovações de Omette Coleman, teve como expoentes John Coltrane, Don Cherry, Cecil Taylor e Anthony Braxton.

FUSION: Fusão entre a improvisação do jazz sobre ritmos de rock e música pop em geral, utilizando instrumentos eletrônicos e de percussão. Expoentes: Miles Davis, Chick Corea, Weather Report, Stanley Clarke, Pat Metheny, Freddie Hubbard, Herbie Hancock, Grover Washington Jr. E George Duke.

JAZZ LATINO: Improvisação do jazz sobre ritmos latinos e percussão, em voga dos anos 40, introduzido pela Orquestra de Dizzy Gillespie.

CONTEMPORÂNEO: Evolução do jazz moderno, à partir do bebop, com elementos do hard bop e do free jazz, inseridos na forma e no conteúdo das improvisações.



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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

002-05 Stride e Boogie-Woogie


Mais dois estilos pianísticos derivados do ragtime, só que, ao contrário do ragtime, que enfatizava a melodia (inclusive Scott Joplin anotava em suas partituras "Do not play fast!"), o stride ("caminhada a passos largos"), estilo de piano fortemente rítmico, com acentuada ação da mão esquerda, desenvolvido nos anos 20 surgido no início do século, no Harlem. E seu descendente, o boogie-woogie, nascido no fim dos anos 20, favoreciam sobremaneira o virtuosismo instrumental, cheio de escalas rápidas, e a capacidade de improvisação. Alguns mestres do stride eram:  James P. Johnson (1894-1955), mostrando abaixo The Mule Walk (1939),



Fats Waller (1904/1943) (tocando junto com James P. Johnson formando assim um dueto),


Jelly Roll Morton (1890/1941)


e Willie "The Lion" Smith.


O boogie-woogie é ainda mais virtuosístico e simplificado que o stride, uma forma de blues sincopada, de grande força rítmica pela ação incessante da mão esquerda,  popular nos anos 30 e 40. (Fats Waller chegou a se referir ao boogie-woogie como "24 compassos de absolutamente nada"), e seu nome vem de "bogey" (espírito) e "woogie",  nome das tábuas que unem os trilhos de uma rodovia; a marcação furiosa em semínimas do boogie-woogie lembra muito barulho de um trem. Principais nomes do Boogie-woogie:

Meade Lux Lewis,


Albert Ammons (23.09.1907-02.12.1949),


Pete Johnson, (tocando com Albert Ammons em 1944)


Jimmy Yancey (1898-1951) (música "Bugle Call")


e Pinetop Smith.



O que não falta são pianistas de jazz discípulos do stride, como Duke Ellington e Oscar Peterson, nem roqueiros fãs do boogie-woogie, começando por, é claro, Jerry Lee Lewis.


E dá para imaginar discos de Chuck Berry e dos Stones sem o tilintar dos pianos de, respectivamente, Johnny Johnson e Ian Stewart? Aliás, para fazer boogie no rock nem precisa ser pianista; basta lembrar os "Guitar Boogie" de Arthur Smith e Chuck Berry, além da paródia de Jeff Beck ("Jeff's Boogie") (tocando com Stevie Ray Vaughan "Jeff's Boogie" em Honolulu)


e do estilo pop-boogie de grupos como o americano Canned Heat (que até gravou um LP chamado Boogie With Canned Heat) e os ingleses Status Quo e T. Rex. Nem precisaríamos falar do Led Zeppelin tentando tocar "Boogie Mama" ao vivo.


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